Posted by : Nuno T. Menezes Gonçalves 14 novembro 2010



  O negrume da noite desce pelas ruas, elas começam a vir ao de cima mais visíveis. Olho em baixo os carros que as transpõem, e em cima algumas estrelas, obstinadas, duram. Noite tenebrosa, vozes de epopeia, num céu denso e escuro. Olho o invisível dela, que é o que é maior e me fascina. Está todo no que vejo, mas não está. Penso-a em pé, voltado para ela. Há um diálogo dela com a minha alma e eu ouço. É uma voz oculta sob o rumor audível, que fala do tempo e do incognoscível das coisas. O tempo ressoa a todo o espaço e ela ergue-se mais alta assim por sobre o rumor. E é como se convergindo para ali todas as minhas interrogações, mesmo as que nunca interrogaram, mesmo as mais imprecisas. Sinto-me sucumbido à quietude inóspita que a assombra. Há a revelação de não sei o quê, e está em ti. Mas não responde, está ali, no centro da minha fascinação. Não diz, está apenas. Como um muro, embato contra ela, e o que estremece em mim hesita desorientado como um animal encurralado. Pequeno eu, face à tua imensidão. Ouço a toda a amplidão o rumor abstracto do meu medo.

   Apoio-me no muro e escuto o seu estrondo silencioso, o marulhar da inquietude da alma mergulhado no indefeso do frio do corpo. Inspirei, ergui os olhos ao horizonte, e não vi nada. A luz vaga permaneceu. O grito adormecido da civilização frenética subjugou-se ao seu termo. As linhas do meu desassossego desvaneceram, tal qual mar se entrega à areia. De súbito, já não tinha medo. Senti apenas a brisa da noite, que me tocava a cara. "Tu estás aí". Extraordinário como a companhia ou protecção nos pode vir donde não esperamos.


Em mãos

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