Archive for dezembro 2011
Mensagem de Natal
Is 9, 2-7
«O povo que andava nas trevas viu uma grande luz; para aqueles que habitavam nas sombras da morte uma luz começou a brilhar. Multiplicastes a sua alegria, aumentastes o seu contentamento. Rejubilam na vossa presença, como os que se alegram no tempo da colheita, como exultam os que repartem despojos. Vós quebrastes, como no dia de Madiã, o jugo que pesava sobre o povo, o madeiro que ele tinha sobre os ombros e o bastão do opressor. Todo o calçado ruidoso da guerra e toda a veste manchada de sangue serão lançados ao fogo e tornar-se-ão pasto das chamas. Porque um menino nasceu para nós, um filho nos foi dado. Tem o poder sobre os ombros e será chamado «Conselheiro admirável, Deus forte, Pai eterno, Príncipe da paz». O seu poder será engrandecido numa paz sem fim, sobre o trono de David e sobre o seu reino, para o estabelecer e consolidar por meio do direito e da justiça, agora e para sempre. Assim o fará o Senhor do Universo.»
Os tempos que vivemos não são de todo promissores. A crise parece enegrecer a cada dia que passa, toca-nos cada vez mais e expõe as nossas fragilidades, medos, dúvidas. Contudo, é verdade que não podemos contar com rezas para solucionar a vida toda dum dia para o outro. Jesus não resolve problemas de preguiçosos: o que Ele faz é precisamente tirar-nos o medo.
Votos sinceros de um santo e feliz Natal, na companhia dos que vos são queridos, e de que seja vivido sobretudo na alegria e na esperança. Deus veio ao mundo por nós, para nos ensinar a amar e assim nos salvar, e nunca se cansa de nós. Cabe a nós dar-Lhe algum espaço na nossa vida para conseguirmos ver essa alegria e essa esperança, que nunca se extinguem.
Que este Natal seja um tempo de nos desprendermos das palavras de circunstâncias e dos presentes, e que seja um tempo de nos darmos às pessoas, de estar presentes junto dos que nos rodeiam e precisam de nós.
Um forte abraço
A lição
«Só o amor salva! Amar e salvar não são duas coisas diferentes, são uma só. A única lição que os homens precisam de aprender é amar. A sua única missão é essa: amar. Quando souberem amar estarão salvos! Aos poucos temos ensinado cada homem a amar, falamos a cada um no seu coração e na sua consciência, inspiramos profetas para falarem em Nosso nome, entramos na sua história. Enfim, indirectamente temo-los preparado para o amor. Agora chegou o tempo de eles viverem com o amor em pessoa. Porquê mais rodeios se podemos ir lá directamente? Pensa bem, quando eles virem o amor em pessoa e o abraçarem estarão salvos! Claro que não podíamos fazer isto logo no princípio, pois não estariam preparados para o aceitar. Agora é o momento certo. Quando eles puderem conhecer o Filho, estar com Ele, ouvi-Lo falar, vê-Lo amar, saberão amar e estarão salvos. Não se trata de uma emenda, trata-se de um objectivo. Foi pensando neste objectivo que começámos a criar.»
'Retrato do Artista Quando Jovem', James Joyce
Mais do que uma obra com algum cariz autobiográfico, este livro relata a trajectória de um homem em busca do conhecimento interno de si mesmo. Joyce narra o processo de amadurecimento de Stephen Dedalus, o jovem protagonista deste romance, desde os tempos em que frequentava o colégio de Jesuítas até à idade adulta. Um jovem inteligente e brilhante, que os Jesuítas tentam conduzir para os seus quadros. E o amadurecimento começa aqui, em conflitos pessoais, sobretudo religiosos, mas abrindo o leque de discussões à política, família, homossexualidade, sociedade, estética...
A difícil passagem da adolescência à maturidade, a procura do sentido da vida e da arte, a emergência do indivíduo frente à sociedade, o carácter aleatório e quase sempre desconcertante da vida são as grandes discussões que acompanham o fio condutor desta obra de uma ponta à outra.
«Se um laico, no decurso de um baptismo, asperge a criança antes de pronunciar as palavras rituais, estará a criança baptizada? Será válido o baptismo com água mineral? Como pode acontecer que, a primeira bem-aventurança prometendo o reino dos céus aos pobres de espírito, a segunda promete aos humildes que também possuirão a terra? Porque foi o sacramento da Eucaristia instituído sob as duas espécies de pão e vinho, se Jesus Cristo estava presente em corpo e em sangue, em alma e em divindade, apenas no pão ou apenas no sangue? Uma parcela mínima de pão consagrado conterá todo o corpo e sangue de Jesus Cristo, ou apenas uma parte do corpo e do sangue? Se o vinho se transforma em vinagre e a hóstia se corrompe e decompõe, estará Jesus Cristo sempre presente nas suas espécies como Deus e como homem?»
«Encostou a cara ao vidro da janela e ficou a olhar para fora, para a rua cada vez mais escura. Formas passavam nesta e naquela direcção por entre a luz opaca. E isso era a vida.»
«A garganta ardia-lhe com vontade de gritar alto, de atirar o grito do falcão ou da águia, planando, anunciar com um grito arrebatador a sua libertação nos ventos do largo. Era esse o apelo que a vida dirigia à sua alma e não a monótona e grosseira voz do mundo dos deveres e das desesperanças, não a voz inumana que o convidara outrora para o serviço incolor do altar. Um único instante de selvagem voo bastara para o libertar e o grito de triunfo que os seus lábios tinham retido retumbou no seu cérebro fazendo-o estalar.»
«O objectivo do artista é a criação do belo; quanto a saber o que é belo, é outra questão.»
«Três coisas são necessárias à beleza: inteireza, harmonia, claridade.»
«Talvez a sua vida não fosse mais do que um rosário de horas, uma existência simples e estranha como a de um pássaro, alegre de manhã, activa ao longo do dia, cansada ao pôr do Sol? Um coração simples e voluntarioso como o coração de um pássaro?