Archive for agosto 2010
"Noites Brancas", Fiódor Dostoievski
É precisamente numa maravilhosa “noite branca” que o nosso herói se apaixona. Dois jovens encontram-se numa ponte sobre o rio Nievá e dão início a uma envolvente e intensa, embora fugaz, história de amor, carregada de fantasia, emoção e lirismo.
Nesta novela singular, Dostoiévski constrói uma atmosfera delicada e fantasmagórica que evoca o gosto romântico da época. Nela, a própria cidade de S. Petersburgo, com os seus palácios e pontes, revela-se como personagem. Não falta o final surpreendente já habitual nos seus livros.
«Como a alegria e a felicidade tornam belas as pessoas! Como o amor enche o coração! Quando nos sentimos felizes parece-nos que o coração nos vai transbordar para o coração do ente amado. Queremos que todos estejam alegres, que todos se riam. E como é contagiosa, esta alegria!»
«O desejo de impor, a mim também, a sua felicidade»
«Quando estamos infelizes, sentimos com maior violência a infelicidade dos outros; o sentimento não se destrói, concentra-se...»
«Como é insuportável ser-se feliz em certos momentos!»
«Todas as criaturas escutam com alegria qualquer consolação, sentem-se felizes por encontrar a mínima sombra de justificação.»
«Por que razão mesmo o melhor dos homens tem sempre qualquer coisa a esconder a outro e se cala diante dele? Por que não dizer francamente, à vontade, o que está no coração, quando se sabe que não se falará em pura perda?»
«Quando amamos, lembramo-nos das ofensas?»
«Um minuto inteiro de felicidade! Afinal, não basta isso para encher a vida inteira de um homem?»
1984, George Orwell
Uma sociedade onde até pensar pode ser crime é o cenário em que se desenrola a obra “1984”, de George Orwell. Com este romance político, George Orwell imprimiu no imaginário popular um dos pesadelos mais fortes do conturbado século XX. A sociedade rigorosamente vigiada, em que nem os pensamentos são livres, tornou-se um símbolo do horror dos regimes totalitários. Mas, se em meados do século XX se pensava na União Soviética de Estaline como o modelo inspirador deste horror, passadas cinco décadas a obra de Orwell continua a dar que pensar.
Winston, herói de “1984”, vive aprisionado na engrenagem totalitária de uma sociedade completamente dominada pelo Estado, onde tudo é feito colectivamente, mas cada pessoa vive sozinha. Ninguém escapa à vigilância do Grande Irmão, a mais famosa personificação literária de um poder cínico e cruel ao infinito, além de vazio de sentido histórico. O'Brien, hierarca do Partido, é quem explica a Winston que "só nos interessa o poder em si. Nem riqueza, nem luxo, nem vida longa, nem felicidade: só o poder pelo poder, poder puro".
«Devia tratar-se toda a gente por camarada»
«O Partido tinha o poder de alterar o passado e determinar este ou aquele acontecimento: isto nunca aconteceu»
«A única finalidade do casamento reconhecida cingia-se à procriação de filhos para o serviço do Partido. O acto sexual era encarado como uma operação desprovida de importância, vagamente repugnante (…) O Partido estava a tentar extinguir o instinto sexual»
«Um amor autêntico parecia-lhe acontecimento quase impensável (…) Graças a um meticuloso condicionamento tinham conseguido extinguir nelas os impulsos naturais»
«Os proles e os animais eram livres»
«A filosofia do Partido negava não apenas a validade da experiência, como até a própria existência da realidade exterior»
«Era sempre um tanto ou quanto perigoso fazer algo que sugerisse gosto pela solidão, até mesmo passear sozinho»