Posted by : Nuno T. Menezes Gonçalves 29 novembro 2010


Nesta obra, Vergílio Ferreira explora a temática da morte enquanto atentado à vida doloroso e difícil de entender. O protagonista, Cláudio, relata-nos a trágica história da sua vida de casal com Flora e o seu jovem filho Miguel, que mais tarde se revela viciado em droga e morre num tiroteio duma operação policial. Entendendo o ser como parte integrante de uma ordem universal, aceitando a condição humana limitada mas ao mesmo tempo desejando o infinito ou a imortalidade, Cláudio combate a fatalidade do destino do seu filho com tentativas de racionalização dos acontecimentos e mergulha-nos gradualmente numa planópia de sentimentos contraditórios e divagações filosóficas, ao mesmo tempo que aponta e reflecte sobre a beleza e peculiariedade da natureza, particularmente do mar, e do quão pequenos e maravilhosos somos aos olhos desse mundo cruel em que vive.


«Nada vale a opinião que se tenha porque tudo é um erro»

«Eu disse que o sentir era hipócrita? Não é verdade. É o que está mais próximo do ser. (...) Mas só as palavras o esclarecem, só nelas o sentir é verdade assumida. Gosto de me assumir em tudo o que sou»

«Há um limite da lógica, há um limite da aceitação. Para lá tudo é possível admitir-se. É onde as duas começam e o maravilhoso e a crendice. Onde a suma inteligência convive com a suma estupidez. (...) Onde o homem se renega e tem vez o curandeiro»

«A felicidade não se mede pela quantidade do que nos aconteceu de agradável, mas pela quantidade de nós que responde ao que acontece»

«Há um mundo de coisas de permeio entre a infância e agora e tu não estás lá. Porque a certa altura, deves sabê-lo, um pai deixa de entrar no jogo das coisas reais e passa para a mitologia. É quando ele é adorável na sua ficção»

«Sentia-me violentamente ofendido, mas não o mostrava. Porque sentirmo-nos ofendidos é afirmarmos a eficácia de quem nos ofende. Só o podemos mostrar quando a nossa dignidade está em causa. Mas só o está quando a importância do outro é inegável»

«Há assim uma luta entre a agitação de imaginar-te e a travagem de estar ali no teu limite. Mas a imaginação é mais forte, transborda para além de ti. Depois volto a ver-te para tudo ser real»

«O que é que de essencial eu vim procurar aqui. Ah, se eu soubesse. Porque se eu soubesse, não vinha. A gente só procura o que sabe mas não sabe que sabe, porque todo o saber é mortal. O saber é um vício que quanto mais, tanto mais. A gente quando muito sabe só para que lados fica o saber»

«Uma vida, como é? Uma estrutura de ligações aguenta-nos de pé. Por isso na velhice, uma solidão até ao absurdo de si e depois é só cair»

«Ter certezas é ter também força para as ter - quantos não têm só a força sem aquilo a que aplicá-la? Porque ter força é que é. É um modo de ser temperamental e o resto é pretexto para o temperamento. (...) São os tipos exemplares não da doutrina que professam mas da energia com que a defendem»

«O grande problema de um autor é o da sintonização do autor. É assim. Entrar no jogo é difícil. Abdicarmos de nós é dificílimo porque nós somos mais do que o universo, que é só uma fracção de nós porque nós somos nós e ele»

«A dor dói sempre o mesmo, a diferença está em nós»

«Porque escrevo? Porque gosto de fazer, de me realizar numa obra, de haver futuro para mim, de visitar o encantamento, de descobrir o mistério do real»

«Não há mais verdade do que o sol e o mar»

Em mãos

Em mãos

Mais lidos

Etiquetas

- Copyright © O que me faz correr -Metrominimalist- Powered by Blogger - Designed by Johanes Djogan -