Posted by : Nuno T. Menezes Gonçalves 10 abril 2011


     Para quem está minimamente atento à política dos dois últimos mandatos do Sócras, percebe que o seu discurso não muda. Continua a ser mesmo muito "ao lado" da realidade. O discurso do coitadinho, o discurso do mártir, o discurso do injustiçado que só quer fazer bem ao país.

     Era completamente evitável entrar numa crise política? Era, se o tivessem posto de lá para fora nas últimas legislativas. A maior parte dos eleitores do PS (e não digo socialistas, porque este PS não tem identidade política e, portanto, quem vota nele também não tem) não tem consciência de voto. Vota porque é moda criticar a Direita e atirar as culpas da crise para a Oposição. Há falta de clareza política na sociedade. Há falta de informação sobre os ideais dos partidos. O voto não é uma tradição a ser herdada da família, é um dever cívico e como tal deve ser exercido em plena consciência das consequências do acto. Votam PS mas não aprovam o Sócras? Muito simples, escolham outro partido que tenha ideias mais claras ou votem em branco.

     «Não estamos em tempo para ideias perigosas», concordo. E o TGV, era realmente necessário? A nossa economia depende assim tanto de um transporte público de alta velocidade para o qual a maioria das pessoas não vai ter possibilidades económicas para usufruir dele? Não será mais importante estimular uma economia de exportação e canalizar os fundos do Orçamento de Estado para o desenvolvimento da agricultura e o apoio às pequenas empresas? Ou até mesmo guardá-los para saldar a dívida externa.

     Já perdi a conta das vezes em que ouvi o Sócras a gabar-se da agenda com ideias claras do seu partido. Avaliação dos professores: modelo apresentado, muitas greves, modelo suspenso, modelo reavaliado, mais greves, modelo suspenso. SCUTs: construção de auto-estradas gratuitas, implementação de portagens, protesto geral e greves de camionistas, portagens suspensas, novo acordo de portagens, mais greves. Novo aeroporto de Lisboa: várias propostas de construção, construção suspensa. Medidas de austeridade: PEC 1, PEC 2, PEC 3, PEC 4 e, por fim, FMI. Liberalização do aborto: não é crime matar um bebé na barriga da mãe, mas, de acordo com a legislação em vigor, se um médico praticar negligência contra uma grávida, é julgado por matar dois seres humanos. Já chega, ou são precisas mais evidências?

     «Uma oposição irresponsável fez cair o Governo mas fez levantar o PS»? Ter-se-á enganado no discurso? Não será antes assim: «Uma oposição responsável segurou o Governo e derrubou o PS»? Acusa a Oposição de ser intransigente e não querer debater as medidas do PEC 4, acusa os outros partidos de empurrarem o país para a crise. Se a memória não me falha, foram apresentados cinco projectos de resolução do PEC 4 na reunião convocada para o debate do PEC, e onde estava o Sócras? Saiu no início do debate. Birra?
     Afirma que fez tudo para evitar a entrada do FMI em Portugal. Eis que senão eles já cá estavam! Aquela apresentação inesperada do PEC 4 em Bruxelas já vinha com água no bico, porque (como admitiu no congresso) já tinha acordado com o BCE e o FMI o pedido de ajuda externa no valor de 80 mil milhões de euros mediante a aprovação das medidas do PEC 4 nessa Cimeira.

     Cabeçalho da SIC Notícias: «Sócrates assume que Governo vai liderar negociações da ajuda externa com UE e FMI». Que acto heróico! Que mais esperariam os portugueses? É um Governo em gestão, mas continua a ser um Governo. Quem tem legitimidade para representar o país no exterior é o Governo, não a Oposição...

     Relatado na TVI 24, sobre este congresso, «o PS proibiu as câmaras de televisão de circularem à vontade na sala, o que lhes permite controlar os planos. (...) As únicas câmaras autorizadas a estar à frente são as da estrutura socialista». É pior que uma ditadura política, nem na cabeça de Hitler esta atitude era aceitável. 

     Felizmente, ainda há militantes do PS que reconhecem a vergonha de líder que o seu partido tem. É o caso de Rómulo Machado, que interrompeu o discurso do secretário-geral do partido, afirmando que «o primeiro-ministro que nos conduziu a esta situação e que conduziu Portugal a uma situação de bancarrota não tem condições para nos fazer sair dela». Acrescentou ainda, e muito bem, que «o congresso não pode ser transformado num comício. Um congresso de um partido democrático deve ser sobretudo um momento alto de debate e confronto de ideias e não de aclamação de um líder».

     Até mete dó ver este congresso. Fazer festa, sabem eles fazer. Quando é para governar no dia a seguir, estão completamente gastos (de ideias).

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