Mar

Posted by : Nuno T. Menezes Gonçalves 20 outubro 2010



Porto Covo
Olho o mar, fascinado pelo seu mistério. De que nasce o seu mistério? Tem a grandeza cósmica dos milénios, é absurdo no gratuito de ser e se agitar, tem o terror preso de um leão numa jaula. E sobrepõe ao seu mistério o mistério da noite. E tudo o que nele cresce vai do que em mim diminui. Estou sozinho em face dele, defronto-me só com ele e o mistério que o torneia, e assim a sua imensidão é maior. Olhei o mar, mas o dia não se tinha esclarecido mais, apenas um frio mais marcado na humidade mortal do meu corpo.
Em que estás a pensar?
O seu rumor imenso, ouço-o da distância, procuro-o entre as últimas estrelas. Pequeno eu, face à sua imensidão. Obstinado, cavernoso, ouço-o. Mas o mistério deve preservar-se, para salvaguardarmos o respeito e o medo, haver ordem no mundo.  Sento-me, e o seu estrondo cadenciado, depois o seu marulhar, fervorosa ressonância, segreda-me, um aroma acre a fertilidade.  Respiro-o fundo com a vitalidade da manhã, rejuvenesce-me, percorre a ramificação do meu ser.
Em que estás a pensar?
Estou à espera que o dia nasça, espero que tu surjas e me reveles o mistério do mar. Espero pelo toque da tua mão. E então mergulharemos nas águas, e renasceremos de dentro delas. Como novo mistério, o sentir. Duas pessoas, uma. Porque o sentir é o que está mais próximo do ser.

Em mãos

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