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- "O último dia de um condenado", Victor Hugo
Posted by : Nuno T. Menezes Gonçalves
23 fevereiro 2011
Victor Hugo traz-nos nesta obra um grande manifesto verídico contra a pena de morte, através da colecção dos escritos que um prisioneiro condenado à morte compôs na prisão até algumas horas antes da execução da sua sentença. Põe em relevo alguns dos valores mais significativos das civilizações humanas, como a consciência, a liberdade e a justiça, valorizando a vida humana e criando um debate mental sobre a pena de morte.
A qualidade da prosa e a modernidade da análise psicológica que caracterizam "O Último Dia de um Condenado", a par das coordenadas sociais em que a novela se insere, fazem deste manifesto contra a pena de morte uma obra literária e um documento.
«Outrora (…) era sempre festa na minha imaginação. Eu podia pensar no que queria. Eu era livre.»
«Os homens estão todos condenados à morte com adiamento indefinido. Por conseguinte, poderá haver alguma coisa que tenha mudado assim tanto a minha situação?»
«Se tudo, à minha volta, é monótono e descolorido, não existirá em mim uma tempestade, uma luta, uma tragédia?»
«Ter-se-ão ao menos alguma vez detido sobre esta ideia pungente de que no homem que eliminam há uma inteligência, uma inteligência que estava a contar com a vida, uma alma que não se dispôs a morrer? Não. (…) E pensam sem dúvida que, para o condenado, não há nada antes nem depois.»
«Eu deixo uma mãe, eu deixo uma esposa, eu deixo uma filha. (…) Mas a minha filha, a minha criança, a minha pobre pequenina Maria, que ri, que brinca, que canta a esta hora, e não pensa em nada, essa é que me faz sofrer.»
«Uma vez cravado a esta cadeia, não se é mais que uma fracção deste todo hediondo a que se chama “o cordão”, e que se move como um só homem. A inteligência deve abdicar, a golilha de prisioneiro condena-a à morte; e o próprio animal nunca mais deve ter necessidades e apetites sem ser a horas fixas.»
«Não estou doente! Com efeito, sou jovem, são e forte (…) e, no entanto, tenho uma doença, uma doença mortal, uma doença feita pela mão dos homens.»
«Se ao menos estes jurados a tivessem visto, à minha linda e pequenina Maria, teriam compreendido que não é preciso matar o pai de uma menina de três anos.»
«Cem vezes a morte!
(…)
Cinco anos de galés e que fique o caso arrumado – ou vinte anos – ou para sempre com o ferro em brasa. Mas concedam-me a vida. Um forçado anda ainda, vai e vem, vê o sol.»
«Alugavam-se mesas, cadeiras, andaimes, carroças. Tudo estava invadido pelos espectadores. Comerciantes de sangue humano gritavam a plenos pulmões: - Quem quer lugares? - Enchi-me de raiva contra este povo. Apeteceu-me gritar-lhe: - Quem quer o meu?»
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