Archive for fevereiro 2011
"O último dia de um condenado", Victor Hugo
Victor Hugo traz-nos nesta obra um grande manifesto verídico contra a pena de morte, através da colecção dos escritos que um prisioneiro condenado à morte compôs na prisão até algumas horas antes da execução da sua sentença. Põe em relevo alguns dos valores mais significativos das civilizações humanas, como a consciência, a liberdade e a justiça, valorizando a vida humana e criando um debate mental sobre a pena de morte.
A qualidade da prosa e a modernidade da análise psicológica que caracterizam "O Último Dia de um Condenado", a par das coordenadas sociais em que a novela se insere, fazem deste manifesto contra a pena de morte uma obra literária e um documento.
«Outrora (…) era sempre festa na minha imaginação. Eu podia pensar no que queria. Eu era livre.»
«Os homens estão todos condenados à morte com adiamento indefinido. Por conseguinte, poderá haver alguma coisa que tenha mudado assim tanto a minha situação?»
«Se tudo, à minha volta, é monótono e descolorido, não existirá em mim uma tempestade, uma luta, uma tragédia?»
«Ter-se-ão ao menos alguma vez detido sobre esta ideia pungente de que no homem que eliminam há uma inteligência, uma inteligência que estava a contar com a vida, uma alma que não se dispôs a morrer? Não. (…) E pensam sem dúvida que, para o condenado, não há nada antes nem depois.»
«Eu deixo uma mãe, eu deixo uma esposa, eu deixo uma filha. (…) Mas a minha filha, a minha criança, a minha pobre pequenina Maria, que ri, que brinca, que canta a esta hora, e não pensa em nada, essa é que me faz sofrer.»
«Uma vez cravado a esta cadeia, não se é mais que uma fracção deste todo hediondo a que se chama “o cordão”, e que se move como um só homem. A inteligência deve abdicar, a golilha de prisioneiro condena-a à morte; e o próprio animal nunca mais deve ter necessidades e apetites sem ser a horas fixas.»
«Não estou doente! Com efeito, sou jovem, são e forte (…) e, no entanto, tenho uma doença, uma doença mortal, uma doença feita pela mão dos homens.»
«Se ao menos estes jurados a tivessem visto, à minha linda e pequenina Maria, teriam compreendido que não é preciso matar o pai de uma menina de três anos.»
«Cem vezes a morte!
(…)
Cinco anos de galés e que fique o caso arrumado – ou vinte anos – ou para sempre com o ferro em brasa. Mas concedam-me a vida. Um forçado anda ainda, vai e vem, vê o sol.»
«Alugavam-se mesas, cadeiras, andaimes, carroças. Tudo estava invadido pelos espectadores. Comerciantes de sangue humano gritavam a plenos pulmões: - Quem quer lugares? - Enchi-me de raiva contra este povo. Apeteceu-me gritar-lhe: - Quem quer o meu?»
A flor-de-lis
A origem do significado da flor-de-lis (simbolicamente identificada ao lírio e à íris) remonta à Monarquia Francesa de Luís VII. O monarca adoptou a íris como seu emblema, atribuindo às suas três pétalas a Fé, a Sabedoria e o Valor. O nome Luís escrevia-se, nessa época, Loys ou Louis, tendo então a flor evoluído de “fleur-de-Louis” para “fleur-de-lis”. Mas, avisto que ele já aparece em 496 d.C., quando um anjo apareceu a Clovis, rei dos Francos, e lhe ofereceu um lírio, acontecimento que concorreu para a sua conversão ao Cristianismo. verdade é que o monarca adoptou este símbolo,
Cedo se tornou símbolo de poder e soberania, de realeza que se faz por intervenção divina, o que a leva também a simbolizar a pureza do corpo e da alma. Por isto, os antigos reis europeus eram divinos por sagração directa da divindade na pessoa da autoridade sacerdotal, e para o serem teriam, em princípio, que ser justos e puros, como o foi Maria, “Lírio da Anunciação e Submissão". Este símbolo também já era conhecido pelos monarcas e príncipes de Portugal, pois a partir de D. Afonso Henriques, e principalmente desde finais do século XIII, o lírio estilizado flor de lis aparece em pleno nas armas portuguesas, com todo o simbolismo imediato e substrato inerente.
A lis ou lírio faz-se símbolo da eleição, da escolha do ser amado, como diz o Cântico dos Cânticos (1, 2): «Como o lírio entre os cardos, assim a minha bem-amada entre as jovens mulheres». A “bem-amada” é a alma universal, Amor puro, virginal, universal, cuja tomada de posse foi privilégio de Israel na pessoa do rei David, logo adoptando a flor de lis dourada para figurar sobre o fundo azul do seu pendão; esse foi o privilégio de Maria entre as mulheres de Israel, e logo, como Mãe Soberana, entre as mulheres do Mundo.
Foi assim que essa planta se tornou, no Cristianismo, o símbolo do amor puro e virginal. O Anjo Gabriel é representado iconograficamente com um lírio na mão, o mesmo acontecendo com o esposo José e os avós maternos de Jesus, Joaquim e Ana. O lírio simboliza também a entrega à vontade de Deus, isto é, à Providência, que cuida das necessidades dos seus Eleitos, como assegura Jesus no Sermão da Montanha: «Vede os lírios do campo, como eles crescem; não trabalham nem fiam» (Mt 6, 28). Assim, entregue sem condições entre as mãos de Deus, o lírio está melhor protegido ou vestido que Salomão em toda a sua glória, de maneira que simboliza o abandono místico à Graça de Deus.
Esta flor também está associada aos escuteiros, sendo o símbolo do escutismo. As três pétalas significam os três artigos da sua promessa: verdade, dever para com Deus, lei do Escuteiro.
No século XX, Lord Baden-Powell pediu autorização ao Dept. de Guerra para conceder a cada soldado que se qualificasse como explorador um emblema que o distinguisse. Escolheu a flor de lis, que apontava o Norte nas bússolas. Quando os Escuteiros começaram, anos mais tarde, usou o mesmo emblema para eles, pois, tal como os exploradores militares, os Escuteiros podiam prestar um serviço igualmente valioso ao seu país.
No ano passado, fui presenteado com um marcador de livros que possui o brasão da família Pereira, em homenagem a Nuno Álvares Pereira, o Santo Condestável de Portugal. Este mesmo brasão possui no seu desenho a flor de lis: símbolo da paz, da pureza, da realeza e de Cristo filho do Homem; símbolo da Virgem Maria, do amor puro, virginal e universal; flor representada por três pétalas, o que faz dela um símbolo da Trindade; símbolo dos escuteiros, representando a verdade, o serviço e a fé.
Hoje perguntava-me que símbolo poderia resumir o modo como quero e me comprometo a viver. Não conseguia encontrar a resposta, quando ela estava à distância de um braço, dentro dum livro. Viver ao serviço dos outros, defender a verdade e a fé católica, praticar o bem para Deus.
16 fevereiro 2011
Posted by Nuno T. Menezes Gonçalves
Biutiful
Biutiful é a história de um homem em queda livre que luta para reconciliar a paternidade e o amor no perigoso submundo das ruas de Barcelona. Uxbal é um herói trágico, pai de dois filhos, cuja vida sente iminente o perigo da morte. Luta contra uma realidade negra e perdida e contra um destino que trabalha contra ele, para perdoar, para amar e para sempre. Por muito próxima que esteja a morte, os seus sacrifícios pelos filhos prevalecem, e é incapaz de aceitar a morte enquanto não sentir que os filhos estão a salvo.
Um filme estrondoso de beleza, nomeado para Óscar de Melhor Filme Estrangeiro, vindo directamente da vizinha Espanha. Deu testemunho à grande qualidade inerente ao cinema europeu.